Manoel de Barros
DISFUNÇÃO
Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de a menos
Sendo que cós mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica
Nomearei abaixo 7 sintomas desta disfunção lírica.
! – Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2 – Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 – Percepção de contigüidades anômalas entre verbos e substantivos.
4 – Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 – Amor por seres desimportantes tanto como pelas coisas desimportantes.
6 – Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 – Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância
Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de a menos
Sendo que cós mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica
Nomearei abaixo 7 sintomas desta disfunção lírica.
! – Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2 – Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 – Percepção de contigüidades anômalas entre verbos e substantivos.
4 – Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 – Amor por seres desimportantes tanto como pelas coisas desimportantes.
6 – Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 – Mania de comparecer aos próprios desencontros.
Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância
aos passarinhos do que aos senadores.
Manoel de Barros
Manoel de Barros
A DISFUNÇÃO
Neste texto, Manoel de Barros enumera as características de sua poética, que, em boa parte, são também uma definição da poesia de um modo geral.
O prefixo des, indicando negação, já elucida que o poeta elegeu a inversão como instrumental literário preferido, daí inércia-movimento, formato de canto-asperezas de pedra, comparecer-desencontrar...
Poesia é que se desvia da linguagem objetiva, referencial, o que busca a “contigüidade anômala” ou o “casamento incestuoso”, o que privilegia os “mistérios irracionais”, em detrimento do senso comum, do pensamento linear e previsível.
Basta ler os poemas de Manoel de Barros para comprovar estes princípios simples e fundamentais, que ele aplica com tal regularidade, que construiu uma das obras poeticamente mais coerentes e organizadas de nossa literatura.
Sua organização pode muitas vezes não ser percebida, por não ter uma estrutura formal tão evidente, como ocorre com João Cabral. Trata-se de uma organicidade na construção de imagens, com a utilização freqüente das antíteses (e às vezes do paradoxo), como forma de criar a inversão na enunciação poética.
Reparemos que, tematicamente, o autor também opta por esta quebra da expectativa e declara “amor pelos seres e coisas desimportantes”. Em um poema, ele nos diz:”Aprendo com abelhas do que com aeroplanos”. Ou seja, as abelhas (natureza) são mais valorizadas do que os
aeroplanos (cultura), o que não ocorreria em uma sociedade tecnológica como a nossa.
Não só em Manoel de Barros, mas em muitos outros poetas, verificamos que o “momento poético” se dá justamente na inversão operada pela linguagem, o traço de – posto antes do uso utilitário da palavra.
Neste texto, Manoel de Barros enumera as características de sua poética, que, em boa parte, são também uma definição da poesia de um modo geral.
O prefixo des, indicando negação, já elucida que o poeta elegeu a inversão como instrumental literário preferido, daí inércia-movimento, formato de canto-asperezas de pedra, comparecer-desencontrar...
Poesia é que se desvia da linguagem objetiva, referencial, o que busca a “contigüidade anômala” ou o “casamento incestuoso”, o que privilegia os “mistérios irracionais”, em detrimento do senso comum, do pensamento linear e previsível.
Basta ler os poemas de Manoel de Barros para comprovar estes princípios simples e fundamentais, que ele aplica com tal regularidade, que construiu uma das obras poeticamente mais coerentes e organizadas de nossa literatura.
Sua organização pode muitas vezes não ser percebida, por não ter uma estrutura formal tão evidente, como ocorre com João Cabral. Trata-se de uma organicidade na construção de imagens, com a utilização freqüente das antíteses (e às vezes do paradoxo), como forma de criar a inversão na enunciação poética.
Reparemos que, tematicamente, o autor também opta por esta quebra da expectativa e declara “amor pelos seres e coisas desimportantes”. Em um poema, ele nos diz:”Aprendo com abelhas do que com aeroplanos”. Ou seja, as abelhas (natureza) são mais valorizadas do que os
aeroplanos (cultura), o que não ocorreria em uma sociedade tecnológica como a nossa.
Não só em Manoel de Barros, mas em muitos outros poetas, verificamos que o “momento poético” se dá justamente na inversão operada pela linguagem, o traço de – posto antes do uso utilitário da palavra.
Comparecer ao próprio desencontro... interessante os sintomas de disfunção lírica...
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