quarta-feira, 27 de maio de 2009


POÉTICA


Com o olhar afiado
- razão acre-doce –
mirar ao fundo
a cebola:
por dentro,sem fundo.

No fundo,
outro mundo de peles e peles,
a faca a afundar
em lágrima o olhar que desnuda.

Cebolas:
espécie de facas
contra a faca da fome
de ver o seu dentro sem corte,
mas
o dentro
da cebola
é o corte.

Por cima da pele,
outra pele,
por baixo mil cascas
na casca
de quem desvenda
a cebola
- esta máscara –
de quem a desvela –

É a cebola o poema,
esta tensa
nudez e nunca nua:
um canto de nada,
um tudo que escapa
ao poeta, outra casca
por cima da lasca

de suas lacunas.

Igor Fagundes


Nenhum comentário:

Postar um comentário