sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DOIS POEMAS DE SUZANA VARGAS



POÉTICA

Cortaram-me as únicas hortas de
descanso
Serão sempre um enigma meus livros

A dúvida
Surge logo na ante-sala do
apartamento
entre a simplicidade dos móveis espalhados
e o requinte de tapetes tabacow

Venho de um lugar quase
inexistente
onde as mulheres fabricam a
manteiga, o pão,
e a carne comida à mesa é trabalho
do marido
o fogão à lenha crepita
viandante
nas brumas do inverno

Por mais que me esforce
não consigo a estratégia urbana
do verbo
O pensamento não tropeça
escorrega apenas – gestos simples –
- Deixar a você o resultado
- Dá-lo inteiro
- Induzir-te a ele?

Abro tudo um buquê de
palavras sem conseguir dize-las
complicadas
“Quanto mais caro melhor”
é o que se ouve e o que
se aplica

O bicho da indagação
hesita e fica

Suzana Vargas





NOVA POÉTICA

Cem leões repousam sobre mim
e me perguntam: o prazer por escrito

vale a pena?




Cem feras domadas por uns meses
matam meu desejo de escrever?

e onde a poesia de todas as questões
depois de contestadas?

Ficaria à espera de outras
com feras acordadas?



Suzana Vargas

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