terça-feira, 13 de outubro de 2009

DRUMMOND, A POESIA HUMANISTA


Carlos Drummond de Andrade


No poema O sobrevivente de seu primeiro livro, Alguma poesia, o poeta diz:

“Os homens não melhoraram
e se matam como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo cada vez mais habitado.”

Este lamento pela perda dos valores humanistas ou a sua defesa é uma tônica na poesia de Drummond, ao longo de seis décadas de publicação. Nos anos 30 e 40, esta visão humanista assume a voz da solidariedade para com os povos ameaçados pela destruição nazifascista, durante a Segunda Guerra Mundial. São desta fase livros fundamentais como Sentimento do mundo e A rosa do povo.
Ainda que não haja descuido com a linguagem, a poesia humanista é predominantemente uma poesia de conteúdo. Longe do panfleto, a poesia se encontra a serviço de uma causa, uma causa humanitária. Mas não é só neste período da guerra que sua poesia é participativa. Em Canto ao homem do povo Charlie Chaplin, o poeta faz a seguinte enumeração:

“Falam por mim os abandonados de justiça, os simples de coração,
os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os recalcados,
os oprimidos, os solitários...”

Mesmo em “tempos de paz”, há sempre os que sofrem injustiça e é ao lado deles que os versos de Drummond se colocam, alternando sentimentos de tristeza e desencanto pela vida absurda e violenta com sentimentos de confiança e esperança no homem. Aliás, a palavra esperança é uma das que mais aparecem em seus textos em momentos poeticamente mais elevados.
A visão de mundo que atravessa seus livros não é ufanista, não faz loas para os homens-percevejo, nem se aliena, fugindo para as ilhas de temas alheios às questões sociais e humanas; mas crê movida pela esperança, pelo desejo de que o homem finalmente se humanize e que valores éticos prevaleçam sobre a violência de qualquer espécie.
E até na sua fase, vista como de feição clássica, este humanismo permanece, deslocando-se agora da problemática social para as questões do indivíduo, em sua universalidade. O tom reflexivo e inquiridor deste período é bem representado em Especulações em torno da palavra homem, poema no qual ele indaga:

“Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?”

Ousamos dizer que em boa parte a obra de Drummond são as respostas (ou as tentativas de) a esta pergunta.

Marcus Vinicius Quiroga

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