terça-feira, 6 de outubro de 2009



O INTELECTUAL COLONIZADO


Os livros didáticos apresentam a história de nosso país em três partes - colônia, império e república - , quando, de fato, deveriam mostrar apenas o Brasil colônia em diferentes fases. A independência de 1822 é só uma estampa na parede de um colégio, mas como dói.
A primeira questão de nossa literatura foi a busca da identidade nacional, a libertação de padrões europeus e, particularmente, portugueses; tal busca teve seus pontos altos com o Romantismo e o Modernismo, ainda que de formas bem diversas. E, quanto à língua, não há dúvida de que há muito já existe u-ma língua brasileira e de que os autores novos já têm parâmetros nacionais de excelência ( Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa...).
No entanto parte de nossa intelectualidade ainda não retornou ao Brasil. Nas universidades, as citações em inglês e francês são obrigatórias e, em alemão, são desejáveis. A utilização de críticos ou teóricos nacionais “em-pobrecem” as dissertações e teses e não tem o mesmo peso que o uso de livros estrangeiros. Nos Estados Unidos, ao contrário, é rara nas faculdades de Letras a referência a críticos europeus.
Por sua vez, revistas e jornais literários dão um espaço muitas vezes excessivo a autores estrangeiros, em detrimento da nossa boa literatura. Não prego aqui o xenofobismo, o marcartismo do saber. Mas me indago se não deveríamos ter, sim, uma reserva de espaço para a divulgação dos nossos autores. Sem paternalismo, sem protecionismo, sem clientelismo.
Recuso-me a usar as expressões “livre concorrência do mercado” ou “leis de oferta e procura”, por absoluta falta de cinismo. As pequenas e médias editoras, que normalmente editam os escritores brasileiros, não têm como competir com os best-sellers enlatados, os harryppoters da vida.
Saber várias línguas, viajar, fazer cursos no exterior, ler autores de inúmeras literaturas, tudo é muito enriquecedor. Mas precisamos citar sempre a leitura ou a influência de escritores norte-americanos ou europeus para mostrar que somos cultos, poliglotas e atualizados?
Será que só percebemos o domínio e a interferência externa, quando mencionamos as multinacionais, as privatizações, as remessas de lucro ou o FMI?
Será que a colonização intelectual não é tão óbvia assim? Será que os intelec-tuais não vêem, por exemplo, o papel da televisão e do cinema americanos na constituição do imaginário brasileiro?
Surpreende-me muitas vezes que o discurso que defende as riquezas de nosso território, as indústrias nacionais e a nossa soberania não defenda também a nossa cultura. Quantas autoridades se pronunciaram a respeito da última reforma de ensino que “desapareceu” com a literatura brasileira do ensino médio e dos vestibulares?
E, por favor, não me venham com argumentos de mundo globalizado, porque o diálogo entraria na terra do absurdo e terminaria. A menos que acreditemos que lobos e ovelhas possam conversar em igualdade de condições.

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