quinta-feira, 11 de junho de 2009

REVOLUÇÃO E POESIA

Laura Esteves

Um dia, meu marido disse:
“ A esperança é revolucionária,”
Passei a manhã, pensativa, refletindo sobre aquelas palavras.
Éramos tão jovens!
As filhas pequenas enrodilhadas em nossas pernas.
Sorrimos os dois, eu e o meu marido.


Ontem, li os jornais e falei:
“Não tenho mais esperanças.”
Pobre marido, passou o dia pensativo,olhando para mim.
E já somos tão velhos!
Então, um neto ligou e falou de poesia.
Sorrimos novamente, eu e o meu marido.

Nem toda revolução é poética, como nem toda poesia é revolucionária, mas que há uma relação entre as duas palavras é verdade. Certas vezes usam o termo revolução de forma equivocada, no lugar de golpe, quartelada etc, logo existem “revoluções” que se opõem à poesia. Da mesma forma, há poemas conservadores e poetas reacionários.
A poesia é, por princípio, subversiva, o que seria mal visto e mal interpretados por pessoas que, assim como confundem golpe com revolução, não sabem distinguir semantemas e morfemas. Se soubessem, veriam no prefixo sub algo próximo, neste caso, ao prefixo in. Portanto subversão e inversão são características da verdadeira poesia, aquela que não reproduz a versão oficial e linear da realidade.
Em Transmutação, Laura Esteves diz que “a poesia espanta o cotidiano”. Ora, eis aqui outra boa definição de poesia, se entendermos cotidiano como momento prosaico, rotineiro, repetitivo. Por oposição, poesia é a surpresa, o inesperado que espana o pó das coisas cotidianas que envelheceram abandonadas na mesmice.
No texto acima, poesia, revolução e esperança aparecem como sinônimos e mantém uma relação em cadeia: a poesia traz esperança e esta é revolucionária. Revolucionária porque crê em mudança e em construção e sabe que mudanças e construções só se realizam com discursos de subversão e de inversão. Em outras palavras, com linguagem de poesia, linguagem de criação, tanto no mundo simbólico quanto no mundo real.
Bem-aventurados, pois, os que reencontram a esperança e sabem que a poesia é uma das suas moradas.

Marcus Vinicius Quiroga




















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