sábado, 19 de setembro de 2009

ASPIRAÇÃO




Não quero ser o poeta do nosso tempo
nem o poeta do tempo estrito da crítica
ou do tempo complacente de algum leitor
vago e simpático como as conveniências
de mandar e poder até não poder mais.

Quero ser o poeta obscuro do meu tempo,
mas poeta do meu tempo ou do mau tempo
nesta meia-água-furtada e sem escritura,
morada do meu ser e dos incríveis
fantasmas que desempenham apenas
as pontas dos papéis picados
caindo na avenida.

Não quero ser o poeta do tempo dos outros,
dos que não fazem nada e vivem cobrando
posições, pronunciamentos, entrevistas
e tantas outras afirmações de poder...
Quero é apanhar mesmo os meus óculos
e tomar posse das minhas sombras.
Ser ausente e devoluto
- um terra sem dono
para ser repartida num domingo
de muito vento e chuva no planalto.

Gilberto Mendonça Teles

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